As queimadas no Brasil registraram um crescimento alarmante em 2024, com um aumento de 79% em relação ao ano anterior, segundo dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Esse crescimento acende um alerta não apenas para o meio ambiente, mas também para o agronegócio, a saúde pública e o equilíbrio climático global.
Neste artigo, você vai entender o que está por trás dessa alta, quais são os biomas mais afetados e os impactos diretos nas comunidades
1. O que explicaria o aumento de 79% nas queimadas em 2024?
Diversos fatores, combinados, explicam esse cenário alarmante. Em primeiro lugar, as secas prolongadas, intensificadas pelas alterações climáticas, têm criado condições favoráveis à propagação do fogo. Essas mudanças no clima, agravadas pelo fenômeno El Niño, contribuem significativamente para a redução da umidade do solo e da vegetação, facilitando o surgimento e a expansão das queimadas.
O desmatamento ilegal continua sendo uma prática recorrente, e, frequentemente, o uso do fogo é adotado como uma ferramenta rápida e barata para a limpeza de áreas. Esse método, apesar de ilegal em muitos casos, ainda é amplamente utilizado, principalmente em regiões de expansão da fronteira agrícola.
Outro aspecto que favorece o agravamento da situação é a fiscalização deficiente em áreas remotas, especialmente nas regiões amazônica e de fronteira agrícola. A fragilidade do controle estatal, associada à vastidão do território, dificulta a aplicação eficaz das leis ambientais. Como se não bastasse, a ausência de políticas públicas robustas e bem estruturadas de prevenção contribui para que os focos de incêndio se repitam ano após ano, sem que medidas efetivas sejam implementadas para conter sua escalada.
2. Regiões mais afetadas: Amazônia e Cerrado sob ataque
Os dados acumulados até dezembro de 2024 revelam um cenário alarmante no que diz respeito aos incêndios florestais no Brasil. Em primeiro lugar, a Amazônia Legal apresentou um aumento expressivo no número de focos de incêndio, ultrapassando a marca de 125 mil registros. Esse número representa um crescimento de 81% em comparação ao ano de 2023. Dentre os estados mais afetados, destacam-se Pará, Amazonas e Rondônia, que concentram a maior parte dos focos e refletem a gravidade da crise ambiental na região.
De forma semelhante, o Cerrado também sofreu com a intensificação das queimadas. O bioma registrou mais de 85 mil focos de incêndio, o que corresponde a uma elevação de 77% em relação ao ano anterior. Maranhão, Tocantins e Mato Grosso foram os estados que mais contribuíram para esse aumento, evidenciando a vulnerabilidade crescente das áreas de vegetação nativa diante da pressão humana e das mudanças climáticas.
Além disso, o Pantanal, que havia registrado uma redução no número de queimadas em 2023, voltou a preocupar em 2024. Apesar de sua natureza úmida, que normalmente oferece certa resistência ao fogo, o bioma tornou-se mais suscetível devido à escassez de chuvas e ao rebaixamento do nível das águas. Como resultado, houve um aumento significativo nos focos de incêndio, colocando em risco a biodiversidade e o equilíbrio ecológico da região.
3. O Papel do Governo e da Sociedade no Combate às Queimadas
O enfrentamento das queimadas exige o engajamento conjunto do poder público e da sociedade civil. No entanto, diversos fatores têm enfraquecido a eficácia das ações governamentais. Em primeiro lugar, destaca-se o enfraquecimento da fiscalização ambiental. Relatórios recentes apontam que cortes no orçamento de órgãos como o IBAMA e o ICMBio, aliados a atrasos na execução de operações de combate ao fogo, têm comprometido significativamente a capacidade de resposta do Estado diante das emergências ambientais. Como consequência, áreas vulneráveis permanecem desprotegidas por longos períodos, favorecendo o avanço das queimadas.
Algumas iniciativas demonstram que é possível construir soluções eficazes por meio da colaboração entre diferentes setores. Um exemplo disso são os projetos de monitoramento por satélite com o uso de inteligência artificial, que permitem antecipar focos de incêndio e agilizar as respostas. Além disso, parcerias entre produtores rurais e organizações não governamentais têm promovido ações preventivas, como o manejo consciente da vegetação e a criação de barreiras naturais contra o fogo. Também merece destaque o papel da educação ambiental, que, ao ser promovida em comunidades rurais e escolas, contribui para a formação de uma consciência coletiva voltada à preservação do meio ambiente.
Em síntese, enquanto a fragilidade do poder público enfraquece o combate às queimadas, iniciativas baseadas na cooperação e na inovação revelam caminhos promissores. Portanto, para que os avanços sejam sustentáveis, é essencial fortalecer a fiscalização, garantir a aplicação rigorosa da legislação e ampliar a participação da sociedade na construção de soluções ambientais duradouras.
Conclusão: o Brasil está em chamas — e o futuro também
O aumento de 79% nas queimadas em 2024 não é apenas uma estatística: é o reflexo de uma crise ambiental sistêmica. A destruição dos nossos biomas compromete a biodiversidade, a economia e a qualidade de vida de milhões de brasileiros.
Se não houver ação imediata, coordenada e sustentável, os prejuízos serão cada vez maiores — inclusive para quem vive do campo. A solução passa por fiscalização, educação, investimento em ciência e, acima de tudo, vontade política e mobilização da sociedade.
O tempo de agir é agora.